A estudante Naiara Medeiros Coelho aluga o apartamento próprio em Taguatinga e paga, assim, a locação de um imóvel na 409 Sul |
O alto preço dos imóveis e a rotatividade de funcionários públicos que chegam de outras cidades para trabalhar temporariamente em órgãos do governo deixam os brasilienses mais longe da casa própria. O Distrito Federal é a unidade da Federação com o menor percentual de domicílios próprios e com o maior número de residências locadas no Brasil. Pelo menos 41% dos moradores da capital federal vivem em casas ou em apartamentos alugados, cedidos por parentes ou em imóveis funcionais. A média brasileira é bem menor: 26,72% da população do país não têm o próprio local de moradia.
Os dados são do censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgado na semana passada. O levantamento mostrou que 59% dos brasilienses vivem no seu domicílio; 30,3% estão em imóveis alugados; e o restante, instalado em locais cedidos por amigos ou familiares (leia arte). O percentual de funcionais na capital é quase igual à média brasileira. Hoje, 2,8% das casas e dos apartamentos do DF são cedidos por empregadores, o que equivale a 22 mil unidades.
São várias as justificativas que explicam por que Brasília tem o menor percentual de pessoas com casa própria no país. A primeira explicação é o preço dos imóveis, proibitivos até mesmo para a classe média brasiliense. Hoje, um apartamento de três quartos na área central da capital custa quase R$ 1 milhão. Para não abrir mão de morar bem localizados, como no Plano Piloto, muitos preferem pagar aluguel do que tentar comprar um apartamento em cidades mais distantes do centro.
Mesmo em bairros de baixa renda, como o Itapoã ou a Estrutural, o preço do metro quadrado atingiu patamares absurdos. Uma pequena casa nessas localidades custa pelo menos R$ 100 mil, valor quase inalcançável para uma família que recebe um ou dois salários mínimos. Assim como no caso da classe média, para essa população o aluguel é a única solução.
O vice-presidente do Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi), Ovídio Maia, lembra que as pessoas que chegam ao DF para trabalhar no governo vêm de todas as partes do Brasil. Como muitos têm a perspectiva de voltar ao local de origem, eles preferem não comprar imóveis em Brasília. “É natural que essas pessoas não tenham vontade de adquirir casas ou apartamentos aqui, porque muita gente vem trabalhar no governo, que dura apenas quatro anos. E mesmo entre aqueles que pensam em comprar algum imóvel, é normal esperar algum tempo até conhecer melhor a cidade”, explica.
Maia avalia que o fato de Brasília ter centenas de representações diplomáticas também contribui para o percentual de imóveis alugados. “As embaixadas fazem muitas locações, porque os funcionários e os diplomatas não ficam mais do que três ou quatro anos aqui. O imóvel é interessante nesses casos, até para garantir a mobilidade dos estrangeiros”, comenta.
Entre 2000 e 2010, a quantidade de domicílios locados no DF cresceu de 23,5% para 30,4%, segundo o censo do IBGE. Para o vice-presidente do Secovi, o total de casas e de apartamentos alugados deve continuar em crescimento nos próximos anos. “A demanda pela mão de obra no serviço público tem crescido, e a tendência é de alta nas contratações.”
Muitas famílias chegaram a Brasília nos anos 1960 e 1970, quando o preço dos imóveis ainda era acessível, e compraram mais de um na capital federal. Essas pessoas agora vivem com a renda dos aluguéis. E, hoje, há muitos brasilienses com altos salários que compram residências como investimento. Isso faz com que a oferta de locação cresça.
Estratégia
Uma opção para a classe média que sonha com a casa própria e quer viver no Plano Piloto, mas não tem recursos para comprar apartamentos nas asas Sul ou Norte, é comprar um em cidades com preços mais baixos e deixá-lo alugado. Assim, muitos brasilienses que vivem na área central têm imóveis em áreas mais distantes, especialmente em Taguatinga, no Guará ou em Águas Claras.
A estudante de artes plásticas Naiara Medeiros Coelho, 34 anos, seguiu esse caminho. Ela e o marido compraram um apartamento em Taguatinga há três anos. Poucos meses depois, o casal percebeu que os deslocamentos diários até o Plano Piloto tomariam muito tempo. Ele trabalha no Setor Bancário Sul; Naiara estuda na Universidade de Brasília, no fim da Asa Norte. Decidiram alugar um apartamento na 409 Sul. “Os valores na Asa Sul são surreais, mas a gente não queria abrir mão de morar em uma região bem localizada, portanto preferimos viver de aluguel e deixamos o nosso imóvel em Taguatinga locado”, diz Naiara.
A Candangolândia é a cidade com o maior percentual de imóveis alugados. Lá, 40% dos moradores não são donos das casas onde vivem. O percentual é alto, porque o aluguel na região é barato, mas a área é bem próxima do centro de Brasília. O Plano Piloto aparece em segundo lugar, com 35,48% dos domicílios alugados. Já o Lago Sul é a região administrativa com a maior quantidade de casas próprias, com 83,5% dos moradores como proprietários.
Para o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do DF, Hermes Rodrigues de Alcântara Filho, a locação de imóveis tem um retorno atraente. Segundo ele, isso estimula os brasilienses a investir no setor. Domicílios pequenos, como quitinetes, têm muita demanda. “Além disso, há muitas pessoas que vêm para Brasília temporariamente, especialmente para trabalhar no governo”, justifica. “Quem tem vários imóveis sabe que a valorização é certa. Então, o retorno mensal de aluguel é uma renda garantida.”
Imóvel próprio
De acordo com dados do censo realizado pelo IBGE no ano passado, a maioria dos brasilienses que têm casa própria quitou o imóvel. Dos 457.216 domicílios ocupados pelos próprios donos, 418.206 estavam quitados e 39.010 eram financiados.
Postar um comentário